O Hermitage foi reconhecido, este ano, como o melhor museu da Europa pelos utilizadores do TripAdvisor, o maior portal turístico do mundo, deixando para trás os museus da Academia das Belas Artes de Florença e o parisiense d’Orsay.
Neste marcante aniversário, o Hermitage volta a florescer. Talvez só nos tempos da sua fundadora, Catarina 2a, o museu tenha vivido tão intenso desenvolvimento. Em 1764, a imperatriz deu início à coleção do Hermitage ao adquirir de um comerciante de Berlim 225 pinturas holandesas, flamengas e italianas.
Hoje em dia, o museu conserva 96 desses quadros, que primeiramente andaram por salas perdidas do palácio. Este fato deu origem ao nome do museu, já que a palavra francesa “hermitage” significa local solitário. Mas há muito que ele deixou de ser uma coleção particular, guardada em meia dúzia de salas. Como qualquer museu de renome mundial, o Hermitage tem suas filiais no exterior.
Para a cidade e para o mundo
A primeira delas foi inaugurada em 2000 na Somerset House de Londres (fechada em 2007). No ano seguinte, surgiu outra em Las Vegas (fechada em 2008), sendo seguidas pelas filiais de Amsterdã e Veneza.
No entanto, a mudança principal na vida do museu nas últimas décadas se deu na cidade que o viu nascer, São Petersburgo, quando lhe foi doado o edifício do antigo Estado Maior, do outro lado da Praça Dvortsóvaia. Os tacos de madeira dos chãos daquele edifício, construído em 1829, estavam habituados às botas dos militares, não ao calçado leve dos apreciadores de museus de belas artes.
Os novos espaços do Hermitage acolhem, anualmente, exposições que suscitam grande ressonância. Em 2012, por exemplo, o trabalho Jake e Dinos Chapman, “Fim do Regozijo”, na qual os autores estadunidenses exprimiam, de forma caricatural, sua visão de Auschwitz, provocou grande escândalo.
No ano passado foi a vez da “Arte Moderna do Japão”. A atenção dos visitantes foi cativada por um enorme labirinto de carreiras de sal no chão do edifício do Estado Maior pelo artista nipônico Motoi Yamamoto. “Manifesta”, a Bienal Europeia de Arte Moderna, marcou este ano.
“Nunca a Rússia presenciou um certame de tal nível e significado”, salienta Mikhail Piotrovski, diretor do Hermitage. “Até agora, organizávamos as nossas próprias exposições, umas melhores, outras piores. Agora, recebemos uma exposição criada na Europa e para a Europa, que pela primeira vez atravessou as fronteiras da União Europeia.”
Natália Semiónova, historiadora de arte, sublinha uma caraterística exclusiva do museu: “Nenhum museu russo, a não ser o Hermitage, tem seus depósitos [instalações onde estão guardados os objetos não fazendo parte da exposição permanente] abertos ao público, que pode assim admirar uma quantidade enorme de obras de arte, no passado fechadas a sete chaves”. Aí se organizam visitas guiadas, conferências e palestras.
Na opinião de John Varoli, jornalista norte-americano, especialista em cultura da Rússia, onde viveu durante 13 anos, o fato do Hermitage ter por sede o incomparável Palácio de Inverno o diferencia com vantagem dos outros grandes museus.
“Por exemplo, a coleção do Louvre até será mais valiosa, mas está num edifício de linhas severas e pouco atrativas, enquanto o interior do Palácio de Inverno, casa soberba e acolhedora dos tsares russos, é impressionante. A atenção dos visitantes estrangeiros se prende, por vezes, mais aos interiores do que propriamente à coleção, sem dúvida uma das melhores do mundo.”
Tempos novos
O Hermitage vai festejar o seu 250º aniversário, como sempre, no dia 7 de dezembro.
“Vamos abrir tudo. A ala oriental do antigo Estado Maior, o novo edifício em Stáraia Derévnia, instalações do Pequeno Hermitage e o Edifício Secundário do Palácio de Inverno, ao lado do Teatro do Hermitage”, promete Piotrovski.
“Temos muitos projetos; a curto prazo, faremos grandes exposições: ‘Arqueologia no Hermitage’, ‘Novas Aquisições’ e ‘Restauração no Hermitage’, além de uma exposição de vitrinas e história de design arqueológico”, completa Piotrovski.
No entanto, segundo ele, o objetivo do Hermitage a longo prazo é a preservação do museu como repositório da experiência museológica mundial, tornando essa experiência o mais acessível que se possa, sem fins lucrativos.
“Em toda a parte se procura entender o que são critérios de êxito do museu, frequentemente associando isso ao resultado contabilístico”, releva Piotrovski.
“Na realidade, o êxito é medido pelo número de pessoas que compartilham a vida do museu, vivendo na mesma cidade ou no mesmo país. Sendo um museu muito grande, o Hermitage é uma instituição cultural muito democrática: une muita gente, é acessível a todos e as pessoas, por muito diferentes que sejam entre elas, nele sempre podem encontrar qualquer coisa de interesse.”