Lendas e cultura milenares

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Viajar pela Cracóvia é descobrir a Polônia dos contos de fadas.

Era uma vez, em uma terra não muito distante, um rei construiu seu castelo sobre a colina para apreciar a beleza do rio e da floresta. Só que ele não sabia que sob as pedras de seu reino vivia um imenso dragão que costumava comer rebanhos e roubar donzelas.

Certa vez, pensando em livrar seu reino de tão temida fera, o rei Krakow resolveu oferecer a mão da sua filha ao valente rapaz que conseguisse matar o dragão! Muitos cavaleiros tentaram sem sucesso percorrer a gruta da fera mas se perdiam em labirintos e túneis. Depois de algum tempo, um humilde sapateiro teve a ideia de costurar e deixar na porta da caverna do dragão uma ovelha gigante com a pele recheada com enxofre.

Pensando ter encontrado a maior ovelha que já existia, o guloso dragão abocanhou o animal cheio de enxofre e para tentar combater o imenso ardor que consumia suas entranhas, acabou bebendo toda a água do rio, até explodir em mil pedacinhos.

Assim, o sagaz sapateiro casou-se com a princesa e viveram felizes para sempre. O dragão, apesar de ter levado a pior, virou mascote da cidade de Cracóvia, na Polônia, e até hoje cospe fogo à beira da gruta sob o Castelo de Wawel que deu origem à esta história.

Quase às portas do inverno, em novembro passado, junto com quatro outros colegas jornalistas, tive o prazer de visitar a cidade de Cracóvia a convite do Ministério da Indústria e Comércio da Polônia e da Organização de Turismo de Cracóvia, com apoio da Coris April Seguros de Viagem. Determinada a viajar sem arriscar uma olhadinha na internet para ver o que me esperava, segui com olhos virgens em busca de aventura e o que descobri não me decepcionou .

A cidade de Cracóvia, às margens do rio Vístula, que saciou a sede do dragão, tem hoje cerca de 850 mil habitantes, foi por quase 600 anos a capital da Polônia e ao contrário de outras cidades europeias, foi a menos atingida pelos bombardeios da Segunda Guerra Mundial. Resultando hoje em um belíssimo museu a céu aberto, com arquitetura impressionante, e monumentos tão preservados que se não fosse a imensa população universitária, mulheres lindíssimas em trajes modernos e uma infinidade de restaurantes e bistrôs elegantes, poderíamos dizer que voltamos no tempo.

Chegamos à cidade depois de um tranquilo voo da Lufthansa, com escala em Munique, em uma fria tarde de sábado. Nossa hospedagem foi no residencial Florian, localizado na cidade velha de Cracóvia e a um minuto a pé do bairro judeu de Kazimiers onde jantamos no Hamsa (http://hamsa.pl/) uma casa israelita com cerveja gelada e deliciosos aperitivos. Apesar do frio negativo que nos esperava na rua, o local era aconchegante e quente. Não posso dizer que o cardápio era bom pois não consegui decifrar nadinha do que estava escrito em polonês. Apesar da limitação do idioma, já que em poucos locais o inglês consegue vencer o alemão, acabei saindo do local com um cobiçado suvenir: uma linda caneca de cerveja.

Os apartamentos Florian (http://apartamenty-florian.pl/) são espaçosos e elegantes, decorados com móveis antigos, tem televisão por satélite e acesso wi-fi gratuito. Sem portaria, o hóspede é obrigado a andar com um papelzinho dos códigos de acesso às três portas que preservam o lugar. Localizados na cidade velha, ficam a uma breve caminhada da histórica praça do mercado, da catedral de Santa Maria e também do castelo Wawel, o mesmo do dragão.

Depois de uma ótima noite de sono, que nada impactou o fuso horário de três horas a mais, o programa reservado pra nós no domingo não poderia ter sido mais incrível.

Conhecer a mina de sal de Wieliczka foi das aventuras mais interessantes, incríveis e impactantes que tive na Cracóvia. Se alguma vez passeando pela Europa você tiver apenas um dia para visitar a Cracóvia, recomendo que seja conhecendo este lugar.

Nas profundezas da terra

Reza a lenda que a princesa Kinga recebeu de presente de noivado uma pedra de sal valiosíssima. Certa vez, em visita a Romênia a princesa deixou cair seu anel em um imenso buraco dentro a mina. Inconsolável, voltou para a Polônia e passados alguns anos foi até Wieliczka e pediu aos mineiros que lhe trouxessem uma pedra de sal do lugar mais profundo da mina. Qual não foi a surpresa de todos quando abriram a pedra de sal e lá estava o seu anel perdido em outro país! Depois de sua morte a linda princesa virou santa e também a padroeira dos mineiros que lhe ergueram uma belíssima catedral de sal no subterrâneo da mina.

Wieliczka é uma mina de exploração de sal que funciona desde o século XIII e como patrimônio mundial pela Unesco, é visitada anualmente por mais de 800 mil turistas. Mas nem pense que o lugar fica apertado com tanta gente. O local é gigantesco, são 327 metros de profundidade que você vai descendo e nem percebe pois vai se encantando com cada lago, galeria, monumentos e capelas construídos no subterrâneo. Ok, o começo da aventura é uma escadaria de madeira que lá de cima você nem enxerga onde terminará.

Mas os encantos compensam qualquer receio e os ambientes internos são tão amplos que nem lembramos que estamos 9 andares embaixo da superfície. Os lustres imensos feitos com cristal de sal impressionam, bem como todas as esculturas salgadas e translúcidas esculpidas por artistas famosos e mineiros religiosos que além de fazer as capelas ainda decoravam com imagens de santos, do papa (falarei dele mais pra frente) e de cenas bucólicas do início do século passado. Como foi motivo de invasões militares de povos suecos, austríacos e alemães não é fácil definir um estilo para sua beleza interna, resultando em um mosaico de estilos e personagens.

O método de trabalho da extração do sal também é ilustrado com engenhocas imensas puxadas por cavalos, roldanas e uma infinidade de armações de madeira que fariam qualquer montador de quebra-cabeça ficar intrigado.

Depois de andar, andar, andar, se emocionar, se impressionar, andar mais um pouco, não acreditar no que vê e continuar se perguntando como tudo aquilo existe, ainda chega num ambiente que parece um shopping center com espaço para eventos, lanchonete e lojinhas.

E o tour pelos 3 quilômetros e meio não termina ainda. O grand finale é a Capela de Santa Kinga, uma impressionante catedral de 54 metros de cumprimento, com altar, imagens, decoração em alto relevo e muitos lustres! Dizem que ao longo dos séculos Wieliczka foi visitada por Copérnico, Goethe, Chopin, Bill Clinton e pelo papa João Paulo II, todos representados em esculturas gigantes em diversos oásis entre os corredores.

O passeio pela mina é orientado por um simpático guia que me lembra muito o dr. Smith de Perdidos no Espaço, imaginem! Além da descrição do local sempre vinha uma lendazinha, uma curiosidade sobre o sal e sua importância como moeda corrente, sobre os soldados romanos erem pagos com quilos de sal, sobre os potenciais energéticos do tempero que não dever ser passado de mão em mão.

Se você já está pensando como sair deste lugar, não se preocupe, não é preciso percorrer o mesmo caminho de volta. Um elevador minúsculo, todo modernoso, cheio de furinhos para que entre o ar e você não se impressione com as paredes de sal, sobe em segundos, encerrando a aventura que só está completa depois de passar pela lojinha que vende sal em diversas embalagens e texturas, suvenirs diversos e lindíssimas joias e objetos em âmbar, uma resina fossilizada de florestas pré-históricas.

Uma caminhada de história

Sem dúvida alguma, para conhecer a Cracóvia é necessário um par de sapatos bem confortáveis! Andando é possível visitar quase todos os principais monumentos históricos, igrejas, museus e restaurantes.

Considerada uma das maiores praças medievais do mundo, a Rynek Glówny é a famosa praça do mercado central onde convivem charretes ricamente decoradas levando turistas aos principais monumentos, floristas em bancas perfumadas, pombos, bares com uma infinidade de mesinhas ao ar livre e monumento por todos os lados. Datada de 1257, marca o centro da cidade e foi cenários de diversas ocupações, cerimônias e execuções públicas, inclusive foi batizada como Adolf Hitler Platz durante a ocupação nazista.

É de lá que saem quase todos as lembranças e presentes dos turistas uma vez que o funciona dentro do Cloth Hall um mercado repleto de barraquinhas de artesanato local e outras bugigangas que turistas adoram.

A basílica de Santa Maria, com arquitetura gótica de torres de alturas diferentes, construída no século XIV, também fica nesta praça e configura-se um dos pontos turísticos de maior visitação pois oferece, no verão, uma das melhores vistas da cidade.

De uma de suas torres, soa a cada hora o Hejnal, a trombeta que informava sobre a abertura e fechamento das portas da cidade. Hoje, a melodia é interrompida em memória do trompetista que foi morto quando tentava alertar os cidadãos sobre uma invasão inimiga.

A missa nesta catedral é das coisas mais lindas que já vi, toda cantada, arrepia. O majestoso painel que fica sobre o altar é todo em madeira do século XV representa mais de 200 figuras esculpidas e é o maior da Europa, com 12 metros de cumprimento.

Na praça do mercado ainda estão a Torre da antiga Câmara Municipal, uma construção de 70 metros de altura sozinha, como se tivesse sido abandonada na praça, e a igreja de santo Alberto.

A luz noturna da praça faz o local mesmo gigantesco parecer aconchegante. É lá, no Piano Rouge (http://www.thepianorouge.com/) que fiz a mais deliciosa refeição nesta cidade. Além do lugar valer uma visita, o menu degustação é saborosíssimo. E quente! Não há inverno que resista ao bom vinho da casa, sopa no pão, queijo de ovelha grelhado, costeletas com repolho e sobremesa.

O tapete vermelho e a impressão de que está entrando num cabaré não somem nem quando você já está confortavelmente acomodado. As paredes revestidas remontam ao século XVIII e mantém esquadrias, grades, dobradiças e detalhes arquitetônicos restaurados. Na sala de concertos de jazz, um autêntico piano marchetado com rosas vermelhas. Trata-se de um autêntico vienense Bechstein centenário, um dos dois existentes na Polônia, quiçá na Europa. A decoração barroca ainda inclui lustres de vidro, boás, cortinas de tecidos antigos, abajures românticos e uma réstia de luz. Ah, esqueci de dizer que o balcão do bar é em formato de teclado de piano.

Se você tiver apenas uma noite pra passar na Cracóvia, este é o programa: jantar no Piano Rouge!

Ia esquecendo que a Praça do Mercado também reserva aventuras subterrâneas. Atravessando uma singela portinha na Cloth Hall é possível adentrar ao Rynek Metro, um museu localizados em uma escavação arqueológica que tem exposições interativas, vídeos e objetos de época medieval. Contrastando com as passarelas modernas, os painéis tridimensionais e digitais está pisos de pedras originais, reconstrução de uma aldeia no local e muita informação sobre os mil anos de história da cidade. Lá tem também uma galeria de quadros de reis e personagens antigos que se mexem. Lembram um pouco os quadros da escola do Harry Potter e dão um susto danado na gente.

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