TEERÃ: UMA VIAGEM E MUITAS HISTORIAS.

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RELATO DE UM JORNALISTA BRASILEIRO QUANDO LA ESTEVE PELA PRIMEIRA VEZ

Valter Xéu*

Quando estive em Teerã pela primeira vez, fui a convite da embaixada em Brasília para participar de um seminário internacional sobre a intifada  palestina.

Imaginei que outros brasileiros estariam participando daquele evento e então descobri que eu era o único entre os 430 participantes de vários países do mundo que tinham sido convidados.

Durante a travessia do Atlântico, que dura mais de sete horas, eu que nunca tive nenhuma preocupação em viajar de avião, o acidente com aquele Airbus que ia para Paris e caiu no oceano não me saia da cabeça.

Para matar o tempo, assisti alguns musicais e entrei nabrincadeira com uma criança que tinha uma coleção dos bonecos do seriado infantil Chavez, e la estava eu mim divertindo com os bonecos do Seu Madruga, Seu Barriga, Kiko, Chapolin Colorado, Chiquinha e outros do seriado Chaves na TV.

A criança, conforme foto ilustrando essa matéria, viajava com a mãe para visitar os avos no Líbano e foi minha companheira de viagem até Doha no Catar onde fiz uma conexão para Teerã e a criança com a mãe foram para Beirute. Fiquei tão envolvido na brincadeira que me esqueci de perguntar o nome dela. 

Mas meu tempo não foi todo dividido entre musicais e brincadeiras infantis.

A linda aeromoça que atendia os passageiros naquela classe sempre  a nos oferecer constantemente algo para beber ou comer, fiquei meio impressionado com a beleza dela, e a sua simplicidade e presteza no atendimento aos passageiros, lembrando as aeromoças da antiga Varig cujo atendimento de bordo ate hoje é lembrado.   

Depois de 18 horas de viagem, saindo de São Paulo, desembarquei em Teerã por volta das cinco da manhã, em voo da Qatar Linhas Aérea,s com conexão em Doha, onde fiquei completamente atarantado com o tamanho do aeroporto e pelo fato de não saber ler nada das informações em árabe e inglês que apareciam nos avisos de chegadas e partidas.  Não tinha ninguém que eu tenha visto no avião que iria para o Irã e que pudesse me dar alguma informação. 

Procurei manter a calma, sentei e fiquei a olhar o movimento, já que o meu voo ainda ia demorar umas três horas para sair. 

De repente, senta ao meu lado um rapaz com um notebook e vi que ele estava na pagina online da Folha de São Paulo. Ufa! Estou salvo, respirei aliviado. 

Puxei conversa, me disse ele que era jornalista brasileiro e que estava ali fazendo uma conexão para Bali, onde já estava uma equipe lhe esperando para a produção de um documentário. Pedi informações de como andar naquela monstruosidade de aeroporto e o mesmo me acompanhou até o check in da Qatar.

 Desembarquei em Teerã por volta das cinco da manhã, no aeroporto que leva o nome do Aiatolá Khomeini, onde encontrei um batalhão de diplomatas a receber os participantes do evento.

Apesar de ter conversado bastante com o colega que me auxiliou no aeroporto de Doha, não lhe perguntei o nome (nem ele o meu), e apesar de andar sempre com cartões de visita no bolso, não lhe dei um. 

No dia em que eu resolver contar as historias das minhas viagens pelo mundo, acredito que farei um livro de centenas de páginas. 

Mas voltemos a Teerã, com os diplomatas no aeroporto a receber os participantes, entre sorrisos e abraços de boas vindas (e eu sem entender nada). Me colocaram em uma luxuosa sala toda entapetada e com grandes quadros de Khomeini e Khamenei espalhados pelas paredes. Pegaram o meu tiquete de bagagem e disseram “não te preocupes” (isso eu entendi). 

O tempo foi passando e nada da minha bagagem e eles sempre a dizer para eu não me preocupar. 

Uma hora depois vieram me perguntar de que cor era a mala, eu que não sabia falar árabe, farsi ( a língua oficial do Irã) e até mesmo o inglês. Eu não sabia dizer creme – a cor da mala – nessas línguas. O jeito foi subir e descer escadas rolantes naquela imensidão de aeroporto à procura da minha bagagem, que fui achar por volta das 08 horas da manhã, na secção de achados e perdidos. 

Vendo o meu sufoco, me arrumaram um diplomata que serviu na embaixada da Nicarágua e sabia espanhol, o que fez a minha permanência em Teerã ser mais tranquila e desfrutar dos encantos da cidade. 

De cara fiquei impressionado com a grandeza do aeroporto e no trajeto até a cidade fui desmitificando a imagem que eu tinha de Teerã.

Vi uma cidade grande, com largas avenidas bem pavimentadas, lindos prédios, sendo que os mais altos estão na periferia da cidade e no considerado centro, as construções eram de no máximo 4 a 5 andares. 

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Na maioria das passarelas, nas avenidas movimentadas, todas com escadas rolantes para subir e descer eram conectadas a um ponto de ônibus, que em muitas das avenidas tem pista exclusiva. 

Em determinadas avenidas eu me senti em Salvador, em plena Paralela, em dias de engarrafamento. Bem diferente de nos baianos, os iranianos tem muita paciência e os quilométricos engarrafamentos terminam fluindo sem incidentes. 

Além dos dois dias do evento na sede do Parlamento iraniano, onde vi figuras como o Líder Supremo Aiatolá Khamenei, o presidente Ahmadinejad, lideranças do Hamas, Hezbolla e outros, aproveitei para conhecer um pouco a cidade e visitei o Bazar (uma espécie de tem de tudo), e vi porque os portugueses enfrentavam todo o tipo de perigo no mar a caminho das índias em busca de especiarias), o palácio onde morou o Xá e a residência de Khomeini, cujos moveis se encontram ate hoje na mesma posição de quando ele morava lá. 

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A casa fica em uma rua estreita, muito bem guardada por seguranças e notei a simplicidade da moradia de um homem que era e continua a ser venerado em todo o país. 

Na sala um par de sandálias usadas pelo grande líder, um sofá velho e poucas coisas que pudessem mostrar suntuosidade, como bem demonstram os nossos lideres de alguma coisa. 

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Fiquei hospedado no Hotel que antes da Revolução Islâmica era Hilton e depois foi rebatizado com o Laleh, um belo e luxuoso predio. 

Curiosamente, lembrei que na minha primeira viagem a Cuba fiquei  hospedado em um hotel que antes da revolução se chamava Hilton e depois foi rebatizado por Fidel com o nome de Havana Libre. A rede Hilton me persegue. 

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Outra coisa que me chamou a atenção, é que a maioria dos carros da policia iraniana são novos e da marca Mercedez Benz. Isso me fez, com ajuda de um tradutor, conversar com um policial e dizer a ele que, comparando com o Brasil, deve ser bacana ser preso no Irã e ir para a delegacia em um carro reluzente daquele, enquanto no Brasil o preso vai em um carro caindo aos pedações e levando bordoada da policia. Ele sorriu e disse que a única diferença do Brasil para o Irã era o carro, pois o resto era igualzinho e que lá se leva bordoada também. 

Por motivos de segurança, durante o tempo em que estive lá, na primeira vez, o nome que constava no meu crachá era de um palestino que residia na Síria. Assim descobrir que muitos dos participantes tiveram os nomes trocados por motivos de segurança, já que, com certeza, o serviço de inteligência israelense estava monitorando todos no evento. 

O povo do Irã, que a mídia ocidental levianas tentam mostrar todos com cara de loucos, barbas enormes e olhos esbugalhados, é igual ao de qualquer povo nas cidades grandes do mundo. 

Todos se vestem muito bem, vi jovens músicos tocando nas praças com trajes ocidentais, lindíssimas mulheres de calças jeans apertadíssimas, sapato ou sandália salto alto e apenas um simples lenço na cabeça tipo aquele que as nossas tias usavam nos anos 50/60 imitando Sofia Loren em alguns filmes italianos. 

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Em todos os lugares em que eu chegava e dizia que era brasileiro, de imediato gritavam o nome de Lula e isso me deixou surpreso, pois achava que Pelé ainda reinava absoluto como o brasileiro mais conhecido no exterior.

Lula é admirado e querido pelos iranianos e essa afirmação eu tive de Ahmadinejad quando em um rápido aperto de mão lhe disse ser brasileiro. Olhou firme para mim e disse: “Lula! Meu amigo e amigo do povo iraniano”. 

FUTEBOL

Todos os iranianos com quem mantive algum tipo de conversa adoram o futebol brasileiro, que eles acompanham pela TV a cabo. 

O lateral Roberto Carlos e Ronaldinho Gaúcho são famosos por lá, sendo que no caso de Gaúcho, jogando no Flamengo na época, foi alvo de criticas de um grupo de torcedores, alegando que o mesmo estava prejudicando o Flamengo com suas fracas atuações e que ele gostava mesmo era de farrear do que jogar. 

Notei para meu desgosto, eu que sou vascaíno, que os críticos eram flamenguistas e ai lembrou-me das sabias palavras do meu amigo Zé Malta, cruzmaltino de quatro costados, que disse que torcedor do Flamengo é igual mosquito, pois existe em todos os lugares do planeta. 

E assim, fui vendo e descobrindo outro Irã, um país que manda nave espacial não tripulada ao espaço (trabalham no sentido de mandar uma tripulada em 2016); um Irã cujas ruas trafegam carros das mais diversas marcas junto com o seu carro genuinamente nacional, cuja fabrica é a quinta maior do mundo.

 Fundada em 1962, a Iran Khodro, ou simplesmente IKCO, é a principal montadora do país, com 12 mil empregos diretos e a fabricação anual de 700 mil carros. Um Irã cujo armamento pesado é construção com tecnologia própria ou de parceria com a Rússia; um Irã com o parlamento com mais de 35% dos assentos ocupadas por mulheres e essas reinam absoluta nas universidades, onde chega a 65%. Um Irã com uma população de 74 milhões de habitantes, que é a decima quarta economia do planeta e que tem uma vasta influencia no Oriente Médio, que tira o sono de israelenses e saudita. Um país com sete mil anos de historia, muita cultura e um povo bastante hospitaleiro.

*Valter Xéu é editor e diretor de Pátria Latina e Irã News.

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